terça-feira, 6 de abril de 2010

OS ANÉIS FATIGADOS

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NÃO SE PODE FALAR DO DESERTO...

(fragmento)

Não se pode falar do deserto como de uma paisagem, pois ele é, apesar de sua variedade, ausência de paisagem.

Essa ausência concede a ele sua realidade.

Não se pode falar do deserto como de um lugar; pois ele é, também, um não lugar; o não-lugar de um lugar ou o lugar de um não-lugar.

Não se pode pretender que o deserto seja uma distância, porque ele é, ao mesmo tempo, real distância e não-distância absoluta por causa de sua ausência de marcas. Ele tem, como limites, os quatro horizontes, sendo o que os liga e os separa. Ele é sua própria separação onde ele se torna lugar aberto; abertura do lugar.

Não se pode pretender que o deserto seja o vazio, o nada. Não se pode, tampouco, pretender que ele seja o término, uma vez que ele é, igualmente, o começo.







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Há ânsias de voltar, de amar, de não ausentar-se,
e há ânsias de morrer, combatido por duas
águas unidas que jamais hão-de istmar-se.

Há ânsias de um beijo enorme que amortalhe a Vida,
que acaba na áfrica de uma agonia ardente,
suicida!

Há ânsias de... não ter ânsias, Senhor,
a ti aponto-te com o dedo deicida:
há ânsias de não ter tido coração.

A primavera volta, volta e partirá. E Deus,
curvado em tempo, repete-se, e passa, passa
carregando a espinha dorsal do Universo.

Quando as têmporas tocam seu lúgubre tambor,
quando me dói o sonho gravado num punhal,
há ânsias de ficar plantado neste verso!




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A morte? Impugna todo o vestido!
A vida? Obsta parte da tua morte!
Fera venturosa, pensa,
deus desgraçado, despoja-te da fronteira.
Falaremos em breve.








Ele tinha - parecia-lhe - mil

coisas a dizer

a estas palavras que não diziam nada;

que esperavam, alinhadas;

a estas palavras clandestinas,

sem passado ou destino.

E isto o perturbava ao desatino;

a ponto de não ter, ele próprio, mais

nada a dizer,

então.

terça-feira, 9 de março de 2010

C.F.A

...

ah...fumarás,beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suícidios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dela, em algum cheiro o cheiro preciso dela (...) mas sabes, principalmente, com uma certa misericórdia doce por ti, por todos, que tudo passará um dia, quem sabe tão de repente quanto veio, ou lentamente, não importa. Só não saberás nunca que neste exato momento tens a beleza insuportável da coisa inteiramente viva.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Soneto da Mulher ao Sol

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Uma mulher ao sol - eis todo o meu desejo
Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruz
A flor dos lábios entreaberta para o beijo
A pele a fulgurar todo o pólen da luz.

Uma linda mulher com os seios em repouso
Nua e quente de sol - eis tudo o que eu preciso
O ventre terso, o pelo úmido, e um sorriso
À flor dos lábios entreabertos para o gozo.

Uma mulher ao sol sobre quem me debruce
Em quem bEBA, a quem morda, com quem me lamente
E que ao se submeter se enfureça e soluce


E tente me expelir, e ao me sentir ausente
Me busque novamente - e se deixes a dormir
Quando, pacificado, eu tiver de partir...





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( Vinicius de Moraes)

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Duas de mim..

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Duas de mim, às vezes 3...ou mais,
Me diversifico ,
Tem horas que grito ,
Mostro ao mundo minha dor ,
Outras horas, só mostro o amor ,
Sou assim...,
Carente e quente... ,
Apaixonada e inconseqüente ,
Quando menos me percebo ,
Me transformo em outra mulher... ,
Cheia de reservas ,
Coberta de sutilezas ,
Séria e sem defesa ,

Em seguida me transformo em mulher fatal... ,
Aí sou dona do mundo ,
Segura e destemida ,
Altiva e atrevida ,
Rasgo meus segredos ,
Conto o que ninguém tem coragem de contar ,
Explico detalhes que é bom nem lembrar ,
Sou assim... ,
Várias em mim ,
Por dentro um tormento ,
No rosto nenhum sofrimento ,
No corpo uma explosão de prazer ,
Nos olhos, deixo meu desejo perceber ,
Melhor nem me conhecer ,
Fique com meus segredos ou medos...,
Na vida real sou bem mais complicada ,
Sou diversas mulheres...,
Quem tentou, descobriu... ,

E quem esteve nele nunca,mais quis fugir
Viver ao meu lado é viver dentro de um campo minado ,
Prestes a explodir ...

Duas de mim

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QUERO TUDO DE TUA BOCA

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Bom Dia...

"A dor que doi mais"

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

Martha Medeiros
Apenas relaxe,

Sinto o vento lutando com os fios dos meus cabelos e de braços abertos não me importa quem vai vencer...

Apenas relaxe,

sinto me livre de mim, de tudo relacionado a mim...

Não adianta, nem a distância nem o fato de viver me assustam mais.
O que é para ser sentido e vivido será, então deixa que o tempo me encontre perdida em algum lugar ...


Apenas relaxe,
"...mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve".